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Foto do escritorDaniel Lugondi

Dia dos Pais e Black Cries


Hoje, um dia após as comemorações do dia dos pais no Brasil, me lembrei de checar a informação sobre registros de crianças no Brasil. Por dia, quase 500 crianças são registradas sem o nome do pai no Brasil - notícia publicada no Correio Braziliense há 1 ano atrás (veja aqui) - claro, pouca gente se importa com este dado até lembrar o impacto que isto pode ter na vida de alguém.


Música presente no nosso último disco e que, também, possui single próprio, Black Cries (ouça aqui) traz não somente os preconceitos que enfrentamos diariamente - com foco em racismo - mas também reflete minhas experiências nos tempos de escola em que este também era um ponto nas relações sociais: o não ter um pai.




Hoje, sendo um pai, me sinto confortável para falar da experiência por diferentes ângulos, especialmente, porque na época em que era criança, eu não entendia o real impacto, influência e o quanto isso contribuiria para tomadas de decisões e visão de mundo na vida adulta.


Quando se está na escola você é medido (e também mede) tudo em relação ao estilo de vida do outro. De onde vem, onde seus pais nasceram, suas posses, sua aparência e até, como e quem te leva a escola. Crianças que chegavam de carro no meu tempo já era um enorme diferencial e isso, de alguma forma, conferia alguma qualidade àquela criança na entrada da escola pública. Meu filho vai de carro para escola e pasmém, não importa tanto este fator, já que todos ao seu redor vão, porém, a indagação dele outro dia foi: seu carro é muito caro? Ele é turbo? Onde ele foi fabricado?Todos esses fatores fazem parte da formação e adequações que buscamos na nossa construção mas ao mesmo tempo são tão supérfluos, considerando a abordagem material da coisa, mas, ainda sim, passamos por eles diariamente já que isso se aplica a moda, ao estilo de vida, entre outras, próprios do capitalismo.


Em Black Cries, eu relembrei o fato de que não ter pai me desqualificava, fui taxado de filho de proveta, de ter saído de um ovo e outras formas ainda mais depreciativas. O que antes conferia a mim a ausência de uma habilidade e/ou posse, passou a ser uma força, ser filho de mãe solo me ajudou muito em termos de independência, mas acima de tudo, de querer fazer diferente. Chega a ser engraçado quando sou elogiado por exercer a paternidade da forma que exerço, mas penso que tem muito a ver com essa ausência, pois mesmo aqueles que se colocam nessa posição hoje, PAI, muitas vezes não passam de um estorvo refletindo a sociedade doente em que vivemos, patriarcal, onde o homem tem aquela função antiga de "prover" e todo o restante ficar a cargo das mães (educação, saúde, agenda, cuidados, compromissos, etc). Muitas vezes, inclusive, os ditos pais, são os principais problemas de uma família, principalmente no que concerne cenários de violência.


Gosto de pensar naquilo que ouvi uma vez durante o pré-natal do meu filho, "o pai só não é capaz de amamentar (diretamente), mas o restante, lhe deveria ser tanto a sua maior prioridade quanto da própria mãe". Black Cries surge - assim como em outras músicas do Hammurabi - com o intuito de ilustrar ocasiões como essa, em que homens possam se tornar melhores, que possam se libertar das máscaras, amarras e comodidade que a sociedade fornece e, a partir de suas experiências, boas ou ruins, ou simplesmente a matéria mencionada no início deste texto, possam fazer diferente. Que eles exerçam o compromisso de se tornarem melhores a cada dia e, em consequência, tornarmos o mundo também um ambiente melhor para todos. Isso passa não somente pela paternidade, se lhe é importante fornecer um exemplo, mas sua conduta moral e ética para com o próximo.


Feliz dia dos pais para a minha pãe! Feliz dia dos pais para àqueles que lutam e se esforçam para exercer seus papéis e responsabilidades e que, de alguma forma, ainda têm esperança de ver um mundo melhor sendo exemplo para aqueles que o guiarão, o mundo, no futuro!


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